Captação de Investimentos

Diferenças entre Venture Capital e Corporate Venture Capital: como escolher?

30 de maio de 2023

Qual a diferença entre Venture Capital e Corporate Venture Capital? Basicamente, enquanto o Venture Capital se concentra no retorno financeiro, o Corporate Venture Capital traz para o centro da análise aspectos estratégicos da corporação além do retorno financeiro, tais como avaliar novas tecnologias, novos mercados, novos caminhos de receita, alternativas para melhorar eficiência operacional, entre outros. Ambas as alternativas de funding têm prós e contras que devem ser avaliadas pelo empreendedor de startup. Vamos lá?

Os últimos anos foram de profunda transformação para o mercado de investimentos em startups no Brasil. Até um passado não muito distante, o país sequer tinha unicórnios para chamar de seus (99Taxis foi o primeiro unicórnio do país, atingindo esse status em 2018). De lá para cá, várias outras startups atingiram a marca de USD 1 bi de valuation e entraram nesse seleto grupo, de modo que o país chegou a figurar entre os com maior número de unicórnios (leia mais aqui).

 

Mercado de funding

O movimento de funding para startups no Brasil passou por profunda transformação nos últimos oito anos, com grandes fundos destinando recursos para startups brasileiras, atingindo um pico superior a USD 9.9 bilhões, como pode ser observado no gráfico abaixo.

Fonte: Distrito

 

O amadurecimento do ambiente de investimento em startups trouxe também a consolidação de novas modalidades de investidores, entre eles os CVC, operações de venture capital tocadas por grandes corporações. É importante destacar que o CVC na verdade constitui uma das ferramentas que empresas interessadas em trabalhar com open innovation utilizam para se relacionar com startups. Para isso, essas empresas precisam, antes de realizar seus investimentos, ter em mente quais os objetivos almejados com suas iniciativas de open innovation. A interação da corporação poderá variar a depender da definição destes objetivos e de quão madura for a iniciativa de open innovation.

Segundo estudo recente realizado pela ABVCAP, somente entre empresas de capital aberto foram abertas 13 novas iniciativas de CVC no último ano. Já estudo realizado pela consultoria Bain, considerando tanto empresas de capital aberto como empresas de capital fechado, aponta que ainda em 2021 haviam mapeadas 74 iniciativas de CVC no país. (Os estudos podem ser encontrados aqui e aqui)

Fonte: ABVCAP

Fonte: Bain

 

Mas qual a diferença entre Venture Capital e Corporate Venture Capital?

Ao se comparar CVC e VC é possível notar algumas semelhanças, seja pelo estágio das startups investidas, instrumentos utilizados e participação acionária adquirida das startups – tipicamente uma participação minoritária. Nesse sentido, é comum os empreendedores se questionarem sobre o porquê de escolher um ou outro investidor.

Convém destacar que, geralmente, os CVCs contam com a possibilidade de aportar um capital intangível que pode ser muito útil aos empreendedores. Esse capital intangível pode vir em forma de acesso a canais, acesso a clientes, validação tecnológica, entre outros. Todas essas formas de suporte são muito mais difíceis de serem acessadas quando se conversa com um investidor financeiro, como é o caso dos VCs.

O fato de os VCs serem, sobretudo, investidores financeiros, reforça também uma segunda diferença importante: o foco do VC está em maximizar o retorno financeiro do aporte realizado por eles. No caso dos CVC, na medida em que há aporte de capital intangível, não raramente são medidos também retornos que vão além do retorno financeiro.

Como foi colocado no início do texto, um CVC é uma ferramenta de uma iniciativa mais ampla, de open innovation. A depender dos objetivos da corporação com tal iniciativa, a atuação desta corporação com investimentos em startups poderá ter um foco mais voltado para retorno financeiro, alimentar funil para possíveis aquisições ou até mesmo um objetivo mais estratégico e de longo prazo. A 99Taxis, por exemplo, foi investida ainda em 2013 pela iniciativa de CVC da Qualcomm, fabricante de chips de celulares. Neste caso, presume-se, o racional por trás do investimento deste CVC estava em fomentar novos modelos de negócios baseados em equipamentos que utilizassem seus chips. Não obstante, pode-se presumir também que o investimento tende a ter gerado bons resultados financeiros.

Um último ponto, pouco comentado, mas que pode fazer uma diferença significativa na vida do empreendedor é a relação do VC e do CVC com os donos do dinheiro. Enquanto o VC possui regras rígidas, prazos de investimento e desinvestimento previstos em regulamento e prestação de contas para cotistas, os CVC trabalham com recursos próprios. Ainda que a corporação seja eventualmente uma companhia de capital aberto, a relação dos gestores do CVC é com um único “cotista”. Dessa forma, é de se esperar que nos CVC tende a ser menor a situação de pressão por liquidez com a proximidade do término do prazo do fundo. 

 

Pontos de atenção na escolha de investimento de Venture Capital e Corporate Venture Capital

Para o empreendedor que avalia receber investimentos de VC ou CVC, algumas questões são comuns:

  • Como este investidor se comporta enquanto sócio?
  • Qual o track record dele? Consigo fazer uma due diligence junto a empresas que já foram investidas?
  • Qual a estrutura de governança desse investidor? Quem toma a decisão? 
  • Os sócios/diretores envolvidos no investimento na minha startup estão devidamente incentivados para permanecer no projeto nos próximos anos?

 

As questões acima são relevantes e devem ser feitas independente se o empreendedor avalia investimentos oriundos de um ou outro modelo. Contudo, as respostas e o peso que se dá a alguns fatores podem variar. Por exemplo: do CVC, por envolver um player estratégico, a primeira e última questão podem ter um peso mais relevante. Por um lado, a forma como o CVC se comporta como sócio revela muito sobre a tese de investimento e a tese de open innovation da corporação. Por outro lado, para que o capital intangível que foi negociado antes do investimento seja efetivamente realizado, a startup precisará contar com estrutura e suporte de pessoas-chave dentro da corporação, de modo que convém avaliar o quão engajadas essas pessoas-chave estão nesse processo. 

Para o empreendedor que avalia captar recursos com CVC, recomenda-se primeiramente conhecer bem a tese da iniciativa de investimento da corporação interessada:

  • Qual o objetivo da corporação com esses investimentos? 
  • Como a corporação se comporta enquanto sócia? 
  • Qual nível de interferência a corporação traz para decisões estratégicas e de governança? 
  • Como a corporação consegue agregar valor ao meu negócio no dia seguinte ao investimento? 
  • Quão sólida é a estrutura do CVC? Como é a governança?

 

Todas essas são questões importantes de serem respondidas antes de avançar na captação com um CVC e, sempre que possível, com exemplos tangíveis. Uma boa sugestão é conversar com outros empreendedores que já passaram pela experiência de receber aportes de corporações, ou até mesmo da própria corporação em questão. 

Por fim, é importante o empreendedor ponderar sobre a possibilidade de a corporação com a qual ele conversa ser um potencial comprador de sua startup no futuro. Não é raro encontrar iniciativas de CVC que visam alimentar o funil de M&A. Contudo, nestes casos, convém avaliar o momento certo de trazer um CVC para seu captable e também trabalhar para equilibrar a participação deste CVC e também os termos de governança, de modo a não impactar negociações futuras.

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