Relação “Lucro x Caixa” em uma startup

Relação “Lucro x Caixa” em uma startup

O lucro e o caixa são contas de resultado, geralmente usados para avaliar o desempenho de uma companhia. Entender as diferenças entre estes dois indicadores é fundamental para avaliar uma empresa.

Não é incomum estar diante de situações em que o rendimento refletido nos valores de lucro não demonstram os desafios de fluxo de caixa. Para startups, a discussão sobre este assunto parece ser ainda mais relevante, a preocupação em ter uma empresa geradora de recursos é algo frequente na mente dos stakeholders. Neste artigo exploraremos as características dessas contas na análise de empresas.  

O lucro

Há, na contabilidade, duas formas de se mostrar os resultados de uma companhia: o regime de competência e o regime de caixa. O regime de competência contabiliza receitas, custos e despesas dentro do período em que ocorreram, enquanto o regime de caixa realiza a contabilização dos valores quando do pagamento e recebimento dos recursos, semelhante a uma conta bancária. O Lucro, apresentado pelas demonstrações de resultado de exercício (DRE), é contabilizado pelo regime de competência.

Dessa forma, se trata de uma visão estandardizada dos resultados de uma empresa. A aplicabilidade da análise do lucro reside na avaliação do desempenho e na tomada de decisões estratégicas, se tratando de uma ferramenta essencial para investidores, gestores e outros stakeholders. O lucro se desdobra em três contas: o (1) lucro bruto, dado pela diferença entre a receita líquida e os custos da operação; o (2) lucro operacional, dado pela diferença entre o lucro bruto e as despesas da empresa; e o (3) lucro líquido, que considera o lucro operacional e o resultado não operacional, subtraindo ainda os impostos sobre resultado. Cada uma dessas visões tem seu papel na análise de empresas. 

Ao verificar o lucro bruto, é esperado entender o quanto a atividade principal da empresa gera resultados. Já quando se analisa o lucro operacional, a rentabilidade da operação na totalidade é o objeto de análise. No caso do lucro líquido, a atenção da avaliação se volta para a rentabilidade da companhia, considerando não apenas sua operação, mas a ocorrência de gastos não ligados à sua atividade econômica, como receitas e despesas não operacionais e impostos.  

 O caixa

Diferente do caráter de indicador de desempenho do lucro, o caixa é a representação tangível da liquidez de uma empresa. Esta conta mostra efetivamente o quanto de recursos entrou e saiu do caixa de uma companhia. Sua formação está vinculada à demonstração do fluxo de caixa (DFC), que mostra as partidas de entrada e saída de fundos durante um período determinado. O regime contábil neste caso é o caixa.

Para Bruna Losada (2020), o “ cronômetro de vida de uma startup é medido em caixa " e a importância prática de sua gestão é inquestionável. A solidez financeira de uma empresa se traduz na sua capacidade honrar compromissos.  

 Uma empresa pode ser lucrativa e ainda assim ter fluxo de caixa negativo?

Isso é possível e ocorre devido aos efeitos das contas que são consideradas na  Demonstração de Resultado do Exercício (DRE) e na DFC. Atividades de financiamento, investimentos e depreciações são elementos que impactam o lucro e o caixa, mas não são consideradas em todas as demonstrações contábeis. As atividades de financiamento podem exercer grande impacto nos fundos de uma empresa, valores altos de parcela podem deixar a operação com saldo negativo e isso não é mostrado na DRE.

Os investimentos seguem o mesmo padrão, também podem consumir recursos significativos e afetar a liquidez e não são considerados na DRE. Por outro lado, a depreciação é uma despesa não desembolsável, que é considerada na DRE, mas não na DFC.  

Como analisar o lucro e o caixa em uma startup?

Pode haver indagações sobre a relevância da análise do lucro à luz da importância operacional do caixa, mas uma análise não deve suprimir a outra. O exame dessas contas demanda a compreensão das diferenças conceituais que resultam de cada um dos cálculos. Ao analisar o lucro, a atenção está na rentabilidade, enquanto a análise de caixa proporciona uma visão imediata da saúde financeira.

As diferenças entre esses dois indicadores revelam as complexidades da gestão financeira de uma companhia.  O lucro e o caixa são métricas distintas, mas complementares, que, se analisadas isoladamente, podem levar a conclusões imprecisas. Enquanto o lucro oferece uma perspectiva padronizada do desempenho, o caixa apresenta uma visão crítica da capacidade de pagamento de uma operação. Reconhecer as diferenças entre essas duas contas e considerar os fatores que as compõem são pontos relevantes para uma compreensão holística da saúde financeira de uma startup. O segredo está na integração dessas análises, que possibilita uma tomada de decisões mais informada, fundamentada na realidade operacional.  

Bibliografia LOSADA, Bruna. Finanças para startups: O essencial para empreender, liderar e investir em startups. 1. ed. Saint Paul Editora, 2020.

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