Panorama do mercado de Fintechs pela perspectiva de M&A
Por Anderson Wustro - 28/05/2025

O cenário do setor financeiro na América Latina passa por uma transformação profunda, impulsionada por avanços tecnológicos que facilitam a gestão do dinheiro e a forma como as pessoas interagem com serviços financeiros. As fintechs, com sua agilidade e foco no cliente, estão liderando essa revolução. Em 2025, essa jornada se intensifica, trazendo novas perspectivas, inovações e desafios. O mercado de fintechs consolida-se como um dos mais dinâmicos e promissores na América Latina, mesmo após um ano de 2024 desafiador.
O Brasil se destaca como o hub de inovação e o mercado mais representativo para fintechs na América Latina. Existem aproximadamente 30 mil fintechs no mundo, segundo dados da Statista de maio de 2024. Na América Latina, há aproximadamente 3.500 fintechs. O Brasil lidera com 1.706 fintechs em operação, o que corresponde a cerca de 60% do total latino-americano. Essa concentração reflete um aumento na digitalização e bancarização da população. Em 2015, a média era de 2,1 contas bancárias por pessoa, chegando a 5,5 em 2023. A Geração Z, em particular, já utiliza serviços de fintechs, demonstrando a integração do setor ao comportamento dos novos consumidores.
Historicamente, o setor de fintechs no Brasil recebeu mais de US$ 10 bilhões em investimentos na última década. A maioria das fintechs latino-americanas adota modelos transacionais (41,8%) ou SaaS (32,6%). Embora a atuação majoritária ainda seja B2B, há uma crescente presença no B2C e em modelos híbridos. Startups focadas em pagamentos, empréstimos e carteiras digitais continuam liderando em número e investimento. O foco no mercado B2B tem crescido significativamente, especialmente no atendimento a pequenas e médias empresas.
Tendências do Mercado de Fintechs para 2025
Diversas tendências impulsionam a transformação do mercado de fintechs em 2025, prometendo serviços mais personalizados, seguros e eficientes. Entre as principais tendências estão:
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Embedded Finance: Este conceito ganhará ainda mais força, permitindo que plataformas não bancárias, como marketplaces e aplicativos de delivery, ofereçam serviços financeiros diretamente integrados às suas experiências. Isso democratiza o acesso a produtos financeiros e aumenta a concorrência e a inovação.
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Open Data / Open Finance: Com o avanço do Open Finance, que já conta com perto de 50 milhões de contas conectadas no Brasil, os dados financeiros dos consumidores estão mais acessíveis de forma segura e consentida. A próxima etapa é o Open Data, que expande o conceito para incluir dados de outras áreas, como saúde e energia. Essa tendência permite a personalização de serviços, melhores análises de crédito, maior transparência e a criação de novos modelos de negócio e produtos financeiros. A integração entre Open Finance e Open Insurance será um marco, permitindo seguros personalizados com base em dados financeiros e comportamento do usuário. O Banco Central impõe regras rígidas de segurança e controle para a participação das instituições, exigindo criptografia e controle de dados. O Open Finance brasileiro, inspirado no modelo europeu PSD2, inclui diretórios de participantes, auditorias e mecanismos de resolução de disputas, garantindo segurança e compliance. Os números de adesão são promissores, com 43,85 milhões de consentimentos ativos em 2024. A expectativa é que o sistema atinja uma parcela ainda maior da população até 2025. A portabilidade de crédito e investimentos, o Open Capital Markets, entra em vigor em julho.
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RegTech: Soluções em tecnologia regulatória (RegTech) despontam como promissoras. O marco regulatório da Inteligência Artificial, esperado para 2025, e a regulação específica para o setor financeiro serão cruciais.
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Inteligência Artificial e Machine Learning (IA/ML): A IA é uma espinha dorsal para as fintechs em 2025. Será utilizada para personalizar serviços, melhorar a detecção de fraudes e oferecer consultoria automatizada de investimentos. Espera-se que o grande destaque da IA seja na hiperpersonalização da experiência do cliente. O uso de IA e segurança cibernética são prioridades de investimento para 100% dos bancos participantes da Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2024. Fintechs já utilizam IA em análises preditivas e detecção de fraudes. A IA também é vista como uma tecnologia-chave para melhorar a eficiência e a personalização dos serviços.
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Blockchain, Drex e Criptomoedas: Espera-se que essas tecnologias se tornem mais regulamentadas e aceitas em 2025, começando a se integrar de forma imperceptível na camada mais tradicional da sociedade. O Drex, a moeda digital oficial do Brasil, está previsto para ser lançado oficialmente em 2025 e impactará os serviços financeiros com contratos inteligentes e tokenização de ativos reais. Embora Open Finance e Pix estejam ganhando relevância, a adesão a iniciativas relacionadas a criptomoedas e CBDCs é menor, refletindo desafios regulatórios. O ano pode ser marcado pela expansão da tokenização na economia, com a regulamentação de stablecoins e tokenização de ativos prevista.
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Evoluções do Pix: O Pix deve continuar consolidando seu protagonismo entre os meios de pagamento. As próximas entregas de regulamentações do BC previstas para 2025 devem agregar bastante valor e trazer mudanças importantes. O Pix deve ultrapassar os cartões de crédito como método de pagamento mais usado no e-commerce brasileiro em 2025. A automação de pagamentos recorrentes via Pix, integrada ao Open Finance, trará mais praticidade e organização financeira. O Pix Internacional, lançado em 2024, amplia o acesso a transações cross-border para microempresas e freelancers, reduzindo custos.
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Inclusão Financeira: O avanço na inclusão financeira de empresas de pequeno e micro portes, assim como a bancarização de populações subbancarizadas, será um grande triunfo das fintechs brasileiras para 2025. Plataformas digitais ajudarão a democratizar o acesso a serviços financeiros mais sofisticados. O Pix Internacional e o Drex são exemplos de iniciativas que podem beneficiar microempresas e comunidades rurais. As fintechs também estão reforçando a inclusão financeira ao expandir para novos públicos. A criação de um mercado novo via crédito consignado privado permitirá acesso a crédito a trabalhadores que hoje não têm essa opção.
Fusões e Aquisições no Setor de Fintechs
O cenário para fusões e aquisições (M&A) no setor de fintechs na América Latina em 2025 é de consolidação e transformação estratégica. Embora o financiamento de venture capital tenha diminuído globalmente nos últimos anos, o setor fintech continua relevante e posicionado para se beneficiar da transformação bancária em andamento.
Especificamente no setor de tecnologia, o M&A Deals Report 2024 H2, da Questum, aponta sinais claros de recuperação no Brasil. O relatório reforça a maturidade do mercado e indica a continuidade das tendências já observadas no primeiro semestre do ano — incluindo maior seletividade nos deals, foco em eficiência e crescimento sustentável como fatores determinantes para transações bem-sucedidas.
O mercado brasileiro tem apresentado um forte movimento interno de aquisição e fusão de startups fintechs. Após uma desaceleração em 2023, o número de aquisições e fusões tem aumentado, e o interesse de capital estrangeiro em fintechs brasileiras cresce. A fase atual é intensa em fusões e aquisições, muitas delas entre as próprias fintechs.
As transações de M&A em 2025 devem focar em pilares como a digitalização, sustentabilidade e eficiência operacional. Fintechs e tecnologia bancária são alvos prioritários para M&A, especialmente startups com soluções baseadas em IA, blockchain e Open Finance. Os compradores buscam startups com maior maturidade, dados financeiros e contábeis transparentes e governança. A concentração de transações está em valores menores, mas o apetite de compra existe, trazendo o desafio de desenvolver startups mais robustas para aumentar o valor dos negócios em 2025. Segundo o M&A Deals Report 2024 H2, mais de 90% das aquisições no Brasil estão entre R$ 20 e R$ 200 milhões.
No entanto, o Brasil enfrenta desafios macroeconômicos que limitam o potencial de crescimento em M&A. A inflação elevada e a alta taxa de juros (Selic a 12,25% em 2024, com projeção de 15%) tornam o crédito mais caro e reduzem a capacidade das empresas de expandir via crescimento inorgânico.
Apesar dos desafios, o setor de tecnologia, incluindo fintechs e startups, é apontado como resiliente e capaz de gerar oportunidades de M&A. Há uma tendência de maior concentração no mercado de M&A, especialmente nos setores mais resilientes, com grandes players buscando consolidar suas posições. Empresas internacionais podem buscar oportunidades pontuais em mercados emergentes como o Brasil, desde que ofereçam um equilíbrio favorável entre riscos e retornos.
Conclusão
Em 2025, as fintechs brasileiras estão posicionadas como pilares de um sistema financeiro mais inclusivo e eficiente. A convergência de tendências como Open Finance, IA, Drex e a evolução do Pix está acelerando a bancarização e transformando a experiência do usuário. Embora o cenário macroeconômico e regulatório apresente desafios, a resiliência, inovação e capacidade de adaptação serão fundamentais para o sucesso contínuo.
A consolidação via M&A e a colaboração com bancos tradicionais são estratégias-chave. O futuro das fintechs brasileiras depende da capacidade de equilibrar inovação com compliance e parcerias estratégicas para sustentar o crescimento e manter a liderança do país como hub tecnológico global
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