Demonstrações Financeiras: as perspectivas contábeis no ambiente empresarial
Por Gabriel Campregher
A contabilidade é frequentemente denominada como "a linguagem dos negócios" e, assim como qualquer idioma, está sujeita a regras e normas que buscam padronizá-la – o que chamaremos aqui de “contabilidade regulatória”.
No entanto, a contabilidade pode sofrer adaptações informais — como gírias ou jargões — que facilitam a comunicação em contextos específicos. É nesse paralelo que surge a contabilidade gerencial, ajustando-se para atender às necessidades de públicos distintos e tornando a informação mais assertiva para a tomada de decisões.
Contabilidade Regulatória
A contabilidade regulatória ou padrão, como a aplicada no Brasil sob a supervisão do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), tem como objetivo garantir a consistência e a transparência das informações financeiras, obedecendo diretrizes e normas padronizadas. Normas internacionais, como as IFRS (International Financial Reporting Standards), também desempenham um papel essencial ao promover a harmonização contábil em nível global, facilitando a comparabilidade entre empresas de diferentes países.
Esse tipo de contabilidade segue rigidamente um plano de contas padronizado, visando estruturar as demonstrações contábeis de forma precisa e uniforme. Os principais usuários dessas informações são acionistas, reguladores, credores e instituições públicas, que dependem da confiabilidade dos dados para tomar decisões financeiras e regulatórias. Por isso, a contabilidade regulatória prioriza a exatidão e a organização das informações, assegurando que todos os relatórios sejam claros, detalhados e baseados em fontes bem estruturadas.
Contabilidade Gerencial
A contabilidade gerencial, por sua vez, tem como principais usuários os membros internos de uma empresa, especialmente os tomadores de decisão dentro da estrutura organizacional. Essa abordagem confere à contabilidade gerencial uma flexibilidade característica, permitindo diversos ajustes com o objetivo de proporcionar uma visão mais clara e realista da eficiência operacional da empresa. Um exemplo comum é a separação dos números entre diferentes verticais de negócios dentro da organização, de forma "arbitrária", para determinar o desempenho individual de cada uma delas. Esses ajustes não seguem regras rígidas, pois, enquanto a contabilidade regulatória se baseia na "padronização", a contabilidade gerencial valoriza a "personalização", adaptando os relatórios à realidade específica de cada empresa ou empreendedor.
Apesar desta flexibilidade, que facilita a interpretação dos dados empresariais de acordo com necessidades internas, é essencial seguir o princípio da parcimônia. Isso garante que as adaptações não se afastem demasiadamente dos princípios da contabilidade regulatória, mantendo uma base sólida e confiável para a análise das informações financeiras
O que acontece na prática?
As diferenças entre as visões contábeis - regulatória e gerencial - podem ser exemplificadas ao olhar para indicadores financeiros, como as margens. A margem bruta reflete a eficiência dos custos diretamente relacionados à operação, enquanto a margem operacional inclui as despesas de suporte, como vendas, despesas gerais e administrativas. Na contabilidade gerencial, os administradores, que têm um conhecimento aprofundado da realidade da empresa, conseguem alocar de forma mais precisa os gastos entre custo e despesa. Por exemplo, um software utilizado tanto pela operação quanto pela equipe comercial pode ser dividido de forma mais adequada, permitindo que as margens financeiras representem de maneira mais fiel a realidade da empresa.
Outro exemplo comum na contabilidade gerencial é o "EBITDA Ajustado", que inclui ajustes feitos para refletir de forma mais precisa o desempenho da empresa para a administração. Estes ajustes frequentemente removem eventos não recorrentes, oferecendo uma visão mais clara dos resultados a longo prazo. Isso permite que a gestão avalie a performance operacional da empresa sem a interferência de fatores pontuais, favorecendo uma tomada de decisão mais estratégica e realista.
Resumindo
Em suma, a contabilidade regulatória e a contabilidade gerencial desempenham papéis distintos, mas complementares numa organização. Enquanto a contabilidade regulatória se preocupa com a padronização e a transparência, sendo essencial para acionistas, reguladores e outros agentes externos, a contabilidade gerencial é mais flexível, adaptando-se às necessidades internas da empresa para facilitar a tomada de decisões estratégicas. Ambas são fundamentais para o sucesso de uma organização: a primeira garante a conformidade e a comparabilidade, enquanto a segunda possibilita uma visão mais detalhada e personalizada do desempenho operacional. Dessa forma, a combinação dessas duas abordagens oferece uma base sólida para uma gestão eficiente e sustentável.
Informações atualizadas sobre M&A
Assine a The Guideline, nossa newsletter semanal exclusiva para acompanhar o mercado de M&A e investimentos em startups.