Chega um momento em que os empreendedores se deparam com uma questão crucial: “Fazer uma rodada de captação de investimento ou abrir um processo de M&A e vender a minha empresa?”. A tomada de decisão é complexa e precisa ser muito bem pensada, pois há inúmeros pontos que precisam ser considerados, passando por questões societárias, pessoais, de mercado e até mesmo oportunísticas.
Pode parecer preciosismo, mas tomar essa decisão é muitas vezes o momento mais importante na vida do empreendedor e, consequentemente, da empresa. Por isso precisa ser uma decisão consciente, onde os cenários e os entendimentos sobre os possíveis caminhos a serem seguidos sejam o guia da tomada de decisão.
Abaixo procuro trazer algumas considerações que considero importantes serem avaliadas para esse momento.
A grande maioria dos exits de empresas de tecnologia no Brasil acontecem com transações abaixo dos R$ 200 milhões. Segundo recente levantamento realizado pela Questum, no Tech M&A Deals Report (2024.H1), pela série histórica dos últimos anos, temos uma concentração de deals bem relevante, com 98% das transações de tecnologia na faixa de R$ 20 a R$ 200 milhões. Se considerarmos que nos últimos anos ocorreram em torno de 200 transações, o número de transações que acontecem além dos R$ 200 milhões fica na casa de 5 transações por ano, ou seja, podemos considerá-las exceções à regra.
Este dado é super relevante e precisa ser considerado como um direcionador aos founders no momento de definição da estratégia de crescimento, pois os primeiros investimentos são os mais importantes para os anos subsequentes da jornada da empresa.
Levantar capital pode impulsionar o crescimento da empresa, permitindo investimentos em novas tecnologias, expansão de mercado e contratação de talentos. No entanto, essa decisão também implica em diluição do controle acionário e a necessidade de atender às expectativas dos investidores quanto ao crescimento da empresa e, principalmente, ao retorno do investimento.
Os fundamentos que guiam o valuation do Venture Capital (VC) são mais orientados a cenários de extremo sucesso, com elevadas taxas de crescimento e dominação do mercado de atuação, tornando as empresas investidas que obtêm êxito em grandes potências. Para isso acontecer, muitas vezes abdica-se do retorno no curto prazo, visando um maior ganho futuro que, dependendo do investidor, pode chegar a 8-10 anos. Ainda temos situações em que a rodada de investimento é realizada com um Private Equity (PE), que também tem seus fundamentos, porém assumindo um risco menor que o VC, com um período para a maturação da estratégia e posterior retorno do investimento.
Por sua vez, o valuation para uma saída estratégica por meio de uma transação de M&A tende a ter fundamentos mais conservadores e é baseado em cenários mais previsíveis de execução, embora também tenha riscos. Além disso, em geral, as empresas que estão adquirindo estão precificando as sinergias, trazendo o valuation para um valor mais “pé no chão”.
Importante: Os valuations históricos das rodadas de captação de investimento realizadas com VC ou PE são bastante superiores às transações de M&A. A tese dos investidores de VC ou PE visa multiplicar o capital investido no mínimo 3, podendo chegar a 5 ou mais vezes. Por exemplo, uma vez que a captação acontece a um valuation de R$ 50 milhões, a saída esperada dos investidores será de um valuation de R$ 150 milhões.
Quando consideramos que a faixa de múltiplos de receita das transações de M&A dos últimos anos foi na maioria entre 2 e 3 vezes o faturamento anual, podemos ter uma ideia do quanto uma empresa que realizou uma captação com um valuation de R$ 50 milhões deverá faturar ao ano para ter um valuation mínimo de 3 vezes a sua rodada anterior para chegar a um valuation de R$ 150 milhões. É certo que não é só crescimento que implica em um valuation maior, no entanto, para empresas tech, que se encaixam numa tese de crescimento dos investidores, é um cenário bem comum.
Empreender é uma jornada repleta de incertezas e desafios. Apostar tempo e dinheiro em uma jornada de anos, em um negócio que pode não dar certo, tem um custo de oportunidade que pode ser imensurável para alguns, mas é parte do jogo. Além disso, existe a volatilidade do mercado, a necessidade constante de inovação e a pressão para atingir metas agressivas de crescimento. Esses fatores podem impactar significativamente a saúde financeira e emocional do empreendedor.
Outro risco importante é a necessidade de adaptação rápida às mudanças do mercado. Um modelo de negócio que é lucrativo hoje pode se tornar obsoleto rapidamente com a entrada de novos concorrentes ou mudanças tecnológicas. Essa volatilidade exige que o empreendedor esteja sempre atento às tendências e preparado para pivotar sua estratégia, o que pode gerar incerteza e aumentar a pressão para tomar decisões rápidas e eficazes.
Costumo falar para os empreendedores que a definição do que é sucesso é algo particular e singular. Cada indivíduo tem sua perspectiva de mundo e vida e precisa considerar isso ao definir seu objetivo e tomar suas decisões. Ter os limites, anseios e desejos claros e mapeados, principalmente antes de definir o caminho que a empresa deve trilhar – captar ou vender – é um dos pontos mais relevantes da jornada empreendedora.
Combinar entre os sócios fundadores onde se quer chegar e qual o retorno esperado para alcançar os objetivos individuais é essencial no processo. Recomendo entender o apetite de cada sócio ao risco, o quanto de “estamina empreendedora” ainda existe em cada um, os movimentos de mercado e as oportunidades para então tomar a decisão, que muitas vezes, é a mais relevante da jornada: captar ou vender.
Saiba mais sobre em:
Seja levantando capital ou vendendo, é essencial que os empreendedores avaliem suas metas a longo prazo, a estrutura de capital atual, a dinâmica do mercado e não se fechem para as oportunidades. Tomar essa decisão estratégica de forma informada pode levar a um futuro próspero para a empresa e seus fundadores.
Além disso, entender o cenário atual de transações de M&A e captação de investimentos é parte vital para a definição de uma estratégia de investimento ou saída. Busque referências similares de mercado, empreendedores que vivenciaram os diferentes caminhos de VC, PE ou M&A.
Acredito que a resposta para captar ou vender é sempre “depende”. Depende do perfil do empreendedor, do negócio, do mercado e das oportunidades. Estar consciente e ter as metas e objetivos definidos é a chave para definir o seu sucesso.