O jogo silencioso das negociações: Como founders dominam a reunião com o comprador em M&A
Por Anderson Wustro - 21/10/2025

Além das planilhas e múltiplos, é na mesa de negociação que se revela o verdadeiro valor de uma empresa
Além dos números - o M&A como jogo humano
Quando um fundador decide vender sua empresa, descobre rapidamente que M&A é menos sobre finanças e mais sobre comportamento.
As planilhas sustentam o valuation, mas o valor percebido nasce na forma como o vendedor se comporta diante do comprador.
O processo é paradoxal: embora envolva finanças, KPIs e projeções, o desfecho de um deal costuma depender de variáveis humanas - confiança, preparo, postura e inteligência emocional.
Um estudo da Bain & Company (2024) mostra que fundadores emocionalmente reativos têm 27% menos chance de manter o valuation inicial.
Não é só sobre números - é sobre como você lida com eles.
O comprador não busca apenas uma boa empresa; quer um fundador que transmita segurança e controle.
A calma e a curiosidade desarmam. A ansiedade entrega poder.
Em M&A, quem domina o ritmo da conversa domina o jogo.
A preparação começa muito antes da reunião
Uma boa negociação não começa na sala de reunião, mas nas semanas que a antecedem.
O vendedor que se destaca é aquele que chega sabendo mais sobre o comprador do que o comprador espera: suas últimas aquisições, a tese de investimento, o perfil dos executivos e o timing de capital alocado.
Essa pesquisa se converte em perguntas inteligentes - e perguntas inteligentes são a arma mais subestimada em M&A:
- “Quais sinergias vocês esperam capturar com essa aquisição?”
- “Como costumam estruturar a integração pós-deal?”
- “O que define prioridade entre múltiplas oportunidades no pipeline?”
Essas perguntas cumprem dois papéis:
1️⃣ Revelam o que não está no teaser.
2️⃣ Reposicionam o fundador como um interlocutor estratégico, não um vendedor.
O M&A Deals Report (H1 2025) - estudo realizado pela Questum, destaca que o mercado está mais racional e exigente. Compradores buscam empresas com operação sólida, governança e, principalmente, fit estratégico. Esse alinhamento é decisivo para que as empresas se tornem "irresistíveis" e alcancem valuations mais altos.
Em outras palavras: a personalização da conversa é a nova vantagem competitiva.
Transparência inteligente: o que dizer, o que guardar
A transparência é um pilar de confiança, mas em M&A, o tempo de revelação é parte da estratégia.
Dizer “preciso vender logo” ou “o caixa está apertado” pode ser lido como sinal de desespero — e isso vira desconto automático.
A comunicação eficaz exige equilíbrio:
- Clareza sem exposição.
- Transparência com intenção.
- Respostas diretas, sem justificar demais.
O fundador deve falar como quem avalia oportunidades, e não como quem busca aprovação.
Essa sutileza cria um dos efeitos mais poderosos na mesa de negociação: a sensação de escassez.
O comprador valoriza o que sente que pode perder - e desvaloriza o que parece disponível demais.
A primeira reunião é conquista, não fechamento
Nenhum deal nasce fechado.
Mas muitos morrem na primeira conversa.
O encontro inicial serve para gerar conexão e curiosidade, não para explicar cada detalhe.
Tratar a reunião como um “primeiro encontro” muda completamente a dinâmica: o foco deixa de ser convencer e passa a ser seduzir intelectualmente o comprador.
Os sinais importam mais que os slides:
- Um discurso leve e assertivo;
- Um storytelling coerente;
- E, principalmente, uma postura de quem não precisa fechar - mas está aberto a uma boa conversa.
Segundo a Harvard Business Review (2025), negociações que privilegiam empatia e ritmo nas interações iniciais têm 38% mais chance de fechar acima da média de mercado.
A mensagem é clara: quem domina o timing cria valor antes mesmo do contrato.
A psicologia do comprador - entender pessoas, não empresas
Por trás de cada corporação existe um ser humano com bônus, metas e ambições pessoais.
Ignorar isso é abrir mão de informação valiosa.
Compreender o que move o comprador é uma forma de alavancagem invisível.
Essa leitura comportamental muda o jogo.
Negociar sem entender o que o outro lado precisa é como jogar xadrez às cegas.
E em M&A, cada movimento emocional - uma pausa, um sorriso, uma resposta breve - molda a percepção de risco.
O papel invisível do assessor: técnica, narrativa e controle
O fundador é o protagonista do deal, mas o assessor é o estrategista do roteiro.
Mais do que preparar planilhas e valuation, um bom assessor treina o vendedor para o palco da negociação - antecipando perguntas, calibrando respostas e modelando a percepção do comprador.
Ele atua como o “treinador antes da final”:
- Testa reações sob pressão.
- Simula objeções.
- E garante que cada fala reforce clareza, confiança e escassez.
Essa preparação não é cosmética - é técnica.
Ela transforma improviso em método e reduz riscos cognitivos que comprometem a objetividade.
Um vendedor bem preparado não apenas responde - ele conduz o ritmo da reunião.
A essência do jogo: percepção é valor
O sucesso de uma transação não se mede apenas pelo múltiplo, mas pela qualidade das decisões que a antecederam.
Dominar a reunião com o comprador é dominar o teatro invisível das percepções - onde cada gesto, pausa e escolha de palavra reforça (ou destrói) valor.
No fim, as grandes vendas não são decididas por planilhas, mas por histórias bem contadas com credibilidade técnica.
O comprador compra segurança, clareza e confiança - e isso nasce na performance do fundador diante dele.
A Questum resume essa lógica em uma frase que norteia sua atuação:
M&A é um processo técnico guiado por inteligência humana.
Porque toda grande negociação é, antes de tudo, uma conversa entre pessoas que entendem o valor de criar algo - e o de saber entregá-lo no momento certo.
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