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Tudo sobre EBITDA

Escrito por Bruno Gardinal | Sep 26, 2023 3:00:00 AM

No cenário dinâmico das finanças corporativas, há uma constante busca por indicadores que demonstrem a eficiência de uma operação. Nesse contexto, o EBITDA se destaca como um ponto de referência crucial, oferecendo orientação valiosa tanto para investidores quanto para organizações.

Mas o que é esse indicador e por que ele ocupa uma posição de destaque nesse cenário? EBITDA, que significa Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização (Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation, and Amortization) é uma medida amplamente utilizada e que oferece uma visão confiável da geração de resultados operacionais de uma companhia. Sua popularidade deriva de sua capacidade de fornecer uma perspectiva da eficiência sem ser afetado por fatores contábeis e financeiros externos à operação. Diferentemente do lucro líquido e outros indicadores tradicionais, que podem ser influenciados por modelos contábeis, estrutura de capital e variações de fluxo de caixa, o EBITDA é focado estritamente na estrutura operacional da empresa.

Diante disso, esse indicador assume evidente relevância para investimentos e transações de fusões e aquisições, fornecendo uma base sólida para comparar empresas de diferentes setores e tamanhos, permitindo avaliar seu potencial de lucratividade. Ao mergulhar nas nuances do EBITDA, podemos ter uma noção mais próxima da qualidade de uma operação, identificar áreas de otimização e tomar decisões estratégicas melhor embasadas.  

Componentes do EBITDA

O EBITDA pode ser dividido em quatro componentes distintos: lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. Estes elementos têm o potencial de enevoar a visão operacional da empresa, e removê-los pode ser benéfico para uma análise mais clara. Vamos fazer uma breve análise do motivo pelo qual cada componente é excluído: 

  • Juros: o lucro antes dos juros destaca a capacidade da empresa em gerar resultados nas suas operações principais, ficando livre do resultado das suas decisões financeiras, suas escolhas de financiamento ou investimentos financeiros;

  • Impostos: a exclusão dessa conta permite uma análise puramente operacional, eliminando a influência dos diferentes regimes tributários;

  • Depreciação & Amortização: ao deixar de considerar esses componentes, temos uma visão mais próxima da geração de caixa da companhia. Nesse sentido, não consideramos o custo dos ativos da companhia ao longo do tempo. A amortização aqui se refere à forma de depreciação do ativo intangível da companhia, não devendo ser confundida com o processo de pagamentos de dívidas.

Esses componentes são excluídos do cálculo do EBITDA para fornecer uma imagem mais clara da lucratividade da operação. Essa visão é especialmente interessante para startups, uma vez que a análise do potencial de crescimento e atração de investidores depende da compreensão de sua eficiência operacional.

O EBITDA é uma medida assertiva de quanto dinheiro uma operação está gerando. Para Assaf Neto (2010, p. 196), ele pode ser definido como “um indicador do potencial de geração de caixa proveniente de ativos operacionais". Apesar dessa característica ele não deve ser confundido com a geração efetiva de caixa. Muitas transações não se convertem em dinheiro no mesmo momento que são indicadas pelo EBITDA (Martins; Miranda; Alvez Diniz, 2020, p.200).  

Mas afinal, como calcular?

O cálculo do EBITDA pode ser feito de duas maneiras principais, a partir da receita líquida ou do resultado líquido. 

1-  Ao partirmos da receita líquida, são diminuídos os custos de venda de produtos ou prestação de serviços e as despesas operacionais. É importante observar que dentro do orçamento de despesas estão as contas de depreciação e amortização, que devem ser somadas novamente ao resultado operacional para se chegar até o EBITDA.

2-  Optando por iniciar o cálculo a partir do resultado líquido, é necessário somar os impostos, as receitas e as despesas financeiras, além da depreciação e amortização. No exemplo destacado abaixo é possível ter uma visão mais clara das contas que compõem essa métrica, bem como se elas comportam.   Em ambos os casos, a fórmula básica permanece a mesma:  

EBITDA=Lucro Operacional+Depreciação+Amortização

 

Vantagens e Limitações do Indicador

 Já entendemos que o EBITDA permite uma comparação mais direta entre empresas de diferentes tamanhos e setores ao focar apenas na geração operacional do resultado. Contudo, é importante reconhecer as limitações deste indicador. Ele não considera a possível necessidade de investimentos, a existência de despesas não operacionais ou eventuais distribuições de dividendos, podendo resultar em uma visão simplificada das demonstrações financeiras.

Ainda se faz essencial reconhecer que o EBITDA não deve ser usado isoladamente, de forma que suas limitações devem ser complementadas por outras métricas financeiras. Muitos autores apontam as fragilidades desse indicador, para Matarazzo (2010, p. 257), as principais críticas à utilização desta métrica são:  

  • “EBITDA é mensurado antes do imposto de renda, enquanto o caixa disponível para pagar dividendos ou recompra de ações é mensurado depois do imposto de renda [...];

  • EBITDA não considera as receitas e despesas não operacionais, tais como ganhos ou perdas na alienação de bens dos ativos fixos;

  • EBITDA não mensura a necessidade de reinvestimentos em bens do ativo permanente;

  • O EBITDA ignora as variações do capital de giro.”

 

Ao empregar o EBITDA na avaliação de negócios, é importante seguir alguns procedimentos padrões:  

  • É essencial calcular o indicador de maneira consistente e transparente, incluindo todas as variáveis indicadas, a fim de evitar quaisquer distorções;

  • Além disso, é imperativo compreender o contexto operacional da empresa. Cada companhia possui particularidades, em termos de modelo de negócio e orçamento, que devem ser consideradas para as análises;

  • Por fim, não se deve analisar o EBITDA isoladamente, é interessante integrar essa métrica a outras para fornecer uma visão mais completa da saúde financeira da operação. Para Martins, Miranda e Alvez Diniz (2020, p. 187), “o cálculo do EBITDA por meio do valor absoluto pode dificultar a comparabilidade entre empresas ou mesmo entre unidades de negócios. Assim, uma alternativa é relativizar seu resultado, utilizando o EBITDA sobre vendas”;

Importante destacar: certos eventos não recorrentes ou não operacionais podem influenciar esse indicador, como ganhos ou perdas extraordinárias, venda de ativos não essenciais ou custos atípicos, levando à necessidade de verificar a qualidade da operação sem esses efeitos.

Neste contexto, surge o EBITDA Ajustado, que se dá através da exclusão dos elementos não operacionais ou não recorrentes do cálculo do indicador. Seu resultado oferece uma perspectiva mais precisa do desempenho central das operações, auxiliando os stakeholders a compreender melhor o desempenho da companhia.

No entanto, vale ressaltar que o uso dessa métrica também pode gerar controvérsias, uma vez que os ajustes podem se tornar muito subjetivos e ter grande variabilidade entre diferentes empresas.

(Leia também: Projeções financeiras: guia para uma estratégia bem-sucedida)

Resumindo

A utilização eficiente do EBITDA requer consistência no cálculo, compreensão do contexto da companhia e integração com outras métricas financeiras. Ao seguir essas práticas, é possível aproveitar ao máximo o valor do EBITDA para orientar estratégias de crescimento e decisões que aumentam a eficiência da operação. Ao isolar algumas variáveis das demonstrações financeiras, o EBITDA oferece uma visão precisa da eficiência operacional de uma companhia. Esta métrica desempenha um papel central nas decisões dos stakeholders, proporcionando uma percepção valiosa sobre o potencial de lucratividade e crescimento das firmas.

A relevância do EBITDA para startups é evidente, no entanto, é essencial reconhecer que ele não deve ser usado de forma isolada. Sua interpretação requer uma compreensão profunda do contexto operacional da companhia. Incentivamos os leitores a considerar o EBITDA como uma ferramenta valiosa, mas não a única, para avaliar a saúde financeira e o potencial de crescimento das empresas.

Combinando essa métrica com outras análises é possível obter uma imagem mais completa da saúde da companhia.  

Bibliografia: ASSAF NETO, Alexandre. Estruturas e Análise de Balanços: Um Enfoque Econômico-financeiro. 12. ed. Barueri: Atlas, 2010.  MARTINS, Eliseu; MIRANDA, Gilberto José; ALVEZ DINIZ, Josedilton. Análise Avançada das Demonstrações Contábeis: Uma Abordagem Crítica. 3. ed. São Paulo - SP: Atlas, 2020. MATARAZZO, Dante C. Análise Financeira de Balanços: Abordagem Básica e Gerencial. 7. ed. São Paulo: Atlas 2010. MARTINS, Eliseu; MIRANDA, Gilberto José; ALVEZ DINIZ, Josedilton. Análise Didática das Demonstrações Contábeis. 3. ed. São Paulo - SP: Atlas, 2020.