No primeiro post da Série "como captar investimentos para sua startup", comentei sobre a importância de não apenas saber qual o momento atual da startup em termos de métricas e números para ir atrás dos seus potenciais investidores, mas, principalmente, saber qual é o seu destino.
Agora, vamos conhecer as modalidades de investimento em startups e a importância de encontrar investidores com horizontes de tempo e valores alinhados, além de entender qual o melhor tipo de investimento para a startup.
Neste ponto, algumas dúvidas que deveriam ser frequentes são: Ao tomar risco empreendendo e sabendo que os investidores querem também retorno, como ele virá? Você e seus sócios desejam vender a empresa ou buscam um IPO? Faz sentido buscarmos rodadas sucessivas sem saber o destino final? Se formos vender, por quanto? Quanto tempo precisamos empreender para chegar neste valor de mercado?
Tais definições podem auxiliar, e muito, na hora de captar, pois os investidores precisam ter o mesmo horizonte temporal e de valores que você.
Supondo que seu destino seja vender a empresa por R$ 50 milhões e tal fato pode ser possível em até 4 anos, seria um pouco contraditório captar investimentos com um player que possa investir a um valuation de R$ 30 milhões, e espera um retorno de 20 vezes o valor investido, podendo aguardar até 8 anos para obter tal retorno.
Neste caso, a conta e o prazo possuem um grande desalinhamento entre você e seu investidor, que parece óbvio pontuando dessa forma, mas é um compromisso comum feito por empreendedores que não definiram seu destino, e só avaliaram a rodada em si. Se do momento atual até o destino for necessário captar investimentos, a questão é quem será este investidor que possui horizonte de tempo e de valores alinhados com você e sua empresa.
Há diversos players no mercado de investimentos em startups que, a depender do seu destino (ou do seu atual momento), podem ser mais ou menos estratégicos. Este post visa pontuar algumas modalidades de investimento e os tipos de investidores envolvidos nelas:
O venture capital (capital de risco) é o tipo de investimento mais comum quando o assunto são startups, visto que ele busca receber o retorno do capital investido em equity , ou seja, em participação societária na empresa.
Do ponto de vista do investidor há baixa liquidez, considerando os longos prazos para a empresa retornar com o valor nos múltiplos esperados, e há altos riscos envolvidos, visto que a maioria das investidas ainda não estão 100% validadas no mercado e podem falir. Mas, com riscos elevados, há expectativa de ganhos elevados. Assim, o retorno do capital esperado ocorre após um evento de liquidez na startup, seja ele:
Uma operação de fusão ou aquisição da empresa (M&A), momento que é mais comum vermos a liquidez também para o empreendedor, pois aqui ele coloca dinheiro no bolso com o cash out e o earn out;
Um IPO (Initial Public Offer) onde as empresas que conseguem chegar neste patamar abrem capital na bolsa de valores; e
Com uma próxima rodada de investimentos, caso não ocorra o follow on e esta rodada seja no valuation mínimo que permita a "saída" deste investidor.
O item acima descreve um cená rio comum aos investidores anjos ou players menores no mercado de VC (citados abaixo), os quais vendem suas participações societárias aos investidores institucionais.
Tal cenário é benéfico ao investidor, mas pode ser prejudicial para o empreendedor: a nova rodada não pode ser a um valuation que impeça o empreendedor de executar seu plano futuro, nem com uma expectativa temporal diferente da que foi planejada pelo investidor.
Assim, considerando que ao captar investimentos, o empreendedor precisa retornar o dinheiro investido àqueles que aportaram na startup e receber o retorno pelo risco assumido (de tempo e dinheiro), a captação, além do dinheiro disponível para crescer sua empresa e explorar seu negócio, é também um compromisso assumido para gerar o retorno aos seus investidores.
Por isso é crucial que o empreendedor possua o mesmo destino que seus investidores, afinal, é benéfico ter um investidor ao seu lado na jornada, querendo chegar no mesmo destino que você.
Dentre os players do mercado de capital de risco, além de fundos de investimento e outros não institucionais, há a figura comum do investidor anjo, que, na pessoa física ou em conjunto com outros na pessoa jurídica (grupos de investidores) investem seu dinheiro diretamente na empresa.
São geralmente empreendedores que querem retornar ao mercado gerando o "give back” deles ao ecossistema após seu evento de liquidez. Muitos oferecem para as startups, além do dinheiro, networking em razão de suas conexões no mercado, bem como mentoria e suporte aos empreendedores para direcionar o negócio.
Outra modalidade que é comum nos EUA e vem ganhando força no Brasil em razão do cenário cada vez mais rigoroso do Venture Capital é a "dívida de risco", em tradução literal. Nesta modalidade os investidores recebem dos empreendedores como retorno o montante investido, corrigido pelos índices e prazos combinados, ao invés da participação societária acordada.
Tal modalidade pode ser uma alternativa tanto para complementar um investimento de VC, quanto para utilizar o dinheiro de forma pontual, em alguma estruturação de projeto ou nova área de negócios.
Alguns dos fatores positivos no investimento via dívida, além do não comprometimento de equity pelos empreendedores, são o incentivo de uma visão mais criteriosa para a própria estratégia da empresa por ter assumido o compromisso de devolução do dinheiro, bem como a preservação de cláusulas de down round em investimentos com VCs, fato comum no cenário atual após 2022.
O Venture Debt é mais comum para empresas em estágio mais maduro, que possam assegurar em seu caixa que possuem fôlego econômico para quitação da dívida perante os investidores.
Para o empreendedor, é necessário avaliar se faz sentido dentre a estratégia e momento da empresa captar por dívida, levando em consideração os benefícios apontados e os desafios.
Atualmente há poucos nesta modalidade, sendo os mais conhecidos fundos de investimentos qualificados que já possuem experiência em emitir dívidas para outras empresas, além de startups, mas estão surgindo novos players no mercado especializados no segmento de tecnologia.
Vamos acompanhando a evolução deste mercado nos próximos anos! Outras formas de captar investimentos para sua startup:
Tanto via emissão de dívida como por recebimento de equity, o Crowdfunding é uma modalidade de investimento coletivo onde pessoas físicas podem, por intermédio de uma plataforma eletrônica regulamentada pela CVM, investir nas startups disponíveis em seu portfólio.
Com intuito de democratizar o acesso às startups para o público não envolvido diretamente no ecossistema, pode ser uma oportunidade para o empreendedor, que recebe investimentos de seus próprios colaboradores e demais anjos, permitindo a criação de um mercado secundário, o que gera liquidez na empresa em prazos menores do que de costume.
Por ser uma modalidade recente no Brasil (a regulamentação veio em 2017 e teve positivas alterações em 2022), há ainda muito a ser desenvolvido no mercado para também dar maior suporte aos empreendedores. Vale sempre a pena consultar empreendedores que já tenham recebido investimento por este meio para saber mais sobre o processo.
Para empresas em estágios mais avançados que possuam grande validação no mercado, os fundos de Private Equity são as figuras recorridas para financiamento de grandes projetos ou crescimento da empresa já consolidada, e, portanto, com "menor" risco.
Geralmente as investidas são empresas que possuem potencial para um IPO e utilizam o investimento para preparação do negócio para este estágio, sendo possíveis compradoras de outras empresas (buy side em operações de M&A), ou até para internacionalizar sua operação.
Apesar de alguns investidores só fazerem sentido em determinadas fases da sua empresa, conforme citado acima, dentre os vários fundos ou players tanto no mercado de capital de risco, quanto no de dívida, há sempre a melhor opção que se adequa não só ao seu momento atual, mas ao seu objetivo, considerando a sua expectativa como empreendedor estar alinhada a dos investidores.
Assim, a melhor modalidade de investimento e o melhor investidor será aquele que possui um horizonte de tempo, expectativa de liquidez e em um valuation que esteja de acordo com o que você como empreendedor quer para sua empresa. Te desejo ótimos deals, e até o próximo post!
Conheça os demais posts da Série "Como captar investimentos para sua startup":