No 15º episódio do Better Deals, tivemos a participação de João Vitor Possamai, CFO da fintech Asaas, em uma conversa sobre estratégias de crescimento inorgânico e fusões e aquisições (M&As). Com mais de 10 anos de experiência no mercado financeiro, João é formado em Finanças e Contabilidade pela New York University (NYU). Desde 2021, atua como CFO do Asaas, após passagens pelo CPP Investments, maior fundo de pensão do Canadá, com quase 500 bilhões de dólares sob gestão, além de experiências no Macquarie, em Nova York, e no HSBC, em São Paulo.
O Asaas é uma fintech brasileira especializada em oferecer contas digitais que automatizam a gestão financeira e cobranças para empresas. A startup foi a 31ª instituição de pagamentos homologada pelo Banco Central do Brasil e possui uma base de mais de 160 mil clientes. Seu software automatiza processos financeiros e de vendas, facilitando a emissão de cobranças pelos principais métodos de pagamento e oferecendo funcionalidades voltadas para a economia de tempo e eficiência de seus clientes.
A estratégia de crescimento inorgânico do Asaas se concentra na aquisição de soluções complementares que possam agregar valor ao seu portfólio existente. O foco é expandir as ofertas de automação de processos, trazendo mais eficiência para seus clientes e reforçando a proposta de valor da empresa.
Um exemplo recente dessa abordagem foi a aquisição da Nexinvoice, empresa especializada na automação de contas a pagar para grandes empresas. Com essa integração, o Asaas passou a oferecer a seus clientes funcionalidades avançadas, como o controle automatizado de notas fiscais e uma comunicação mais ágil com fornecedores, visando simplificar ainda mais a gestão financeira para pequenas e médias empresas. João destaca que a empresa continuará explorando novas aquisições para aprimorar suas ofertas de automação.
João explica que o Asaas costuma desenvolver internamente soluções que estão diretamente ligadas ao seu core business, como funcionalidades de pagamento. No entanto, para soluções adjacentes, a fintech opta por aquisições de empresas já estabelecidas no mercado, com o objetivo de acelerar o tempo de entrada dessas novas capacidades. Ele afirma que adquirir expertise pronta pode ser uma estratégia mais eficiente do que desenvolver certas soluções internamente, especialmente quando a empresa-alvo já possui um produto consolidado e com boa aceitação de mercado.
“A gente olha para fora e vê quem já é o melhor em fazer isso (...) já tem um produto que funciona, que tem aderência no mercado, e que levaria anos para desenvolvermos internamente”, comenta João.
A prioridade é adquirir empresas que realmente complementem o portfólio, evitando aquisições apenas para aumentar a base de clientes sem agregar valor estratégico ao core business do Asaas.
Ao avaliar uma potencial aquisição, o Asaas dá grande importância à qualidade do produto e da tecnologia oferecida pela empresa alvo. A tecnologia deve ser robusta e escalável, capaz de suportar um crescimento significativo na base de usuários. João evidencia que isso é fundamental, pois a intenção do Asaas é integrar essa tecnologia de forma que ela possa ser usada por seus mais de 160 mil clientes.
Outro critério essencial é a compatibilidade cultural. O Asaas valoriza que as pessoas e a cultura da empresa adquirida estejam alinhadas com seus próprios valores, especialmente em termos de desenvolvimento e práticas do dia a dia. Uma integração bem-sucedida depende de uma conexão cultural sólida, pois, caso contrário, a empresa pode enfrentar dificuldades na adaptação e no alinhamento de processos, o que poderia comprometer o sucesso da transição.
O Asaas valoriza não apenas a integração de tecnologias, mas também a das equipes. João compara o processo de integração a um "casamento", onde as pessoas das empresas adquiridas são trazidas para contribuir ativamente na construção do futuro da empresa. Das três aquisições já realizadas, os principais fundadores e executivos continuam no time, desempenhando papéis estratégicos dentro do Asaas.
Um exemplo é Rodrigo, fundador da Nexinvoice, que lidera a integração dos processos entre as duas empresas, contribuindo para a implementação das sinergias planejadas. O mesmo ocorre com Júnior, fundador da Code Money, que também integra a equipe estratégica do Asaas.
Para maximizar o sucesso das aquisições, o Asaas ajusta expectativas e define metas claras para as equipes envolvidas, promovendo uma colaboração produtiva e gerando valor para ambos os lados. A retenção de talentos e o alinhamento de interesses são vistos como fatores decisivos para o sucesso da integração.
“Pessoas e cultura são definitivamente deal breakers”, conclui João, destacando a importância desses elementos para a concretização de qualquer transação.
No encerramento do episódio, João Possamai compartilhou dicas fundamentais para empreendedores que estão considerando um exit. Ele enfatizou a importância da clareza desde o início do processo, destacando que os fundadores devem saber exatamente o que esperam de uma transação — seja vender 100% do negócio ou permanecer por um período como parte da nova estrutura. Ter um relacionamento transparente com potenciais compradores é essencial para garantir um alinhamento de expectativas.
João também alertou sobre a importância de contratos bem estruturados, já que eles são cruciais para proteger ambas as partes, especialmente quando as coisas não acontecem conforme o planejado. Além disso, ele reforçou a necessidade de manter as operações da empresa sempre organizadas e em conformidade fiscal e legal, evitando passivos que possam surgir durante o processo de due diligence.
Por fim, João recomendou que os empreendedores sempre mantenham um caminho para alcançar o breakeven e garantir a sobrevivência do negócio, de modo a não serem forçados a uma venda em circunstâncias desfavoráveis.