No post mais recente sobre investimentos mencionamos brevemente o processo com os players de venture capital e as cláusulas que necessitam de maior atenção nos contratos com os investidores.
E após receber o investimento, o que de fato muda no dia a dia da empresa?
Considerando startups no início da jornada, sabe-se que há perfis diferentes de investidores que podem conduzir o acompanhamento do portfólio de suas investidas com maior ou menor influência, a depender da sua cultura e forma de operar (além do tamanho do investimento).
Em linhas gerais, quanto maior o investimento, maior é a governança exigida pelo investidor, especialmente fundos de venture capital, os quais são regulados e, por este motivo, precisam cumprir uma série de requisitos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Destaco o cuidado neste ponto: é comum que ainda em fase de negociação, investidores não regulados, como exemplo anjos, aceleradoras e demais atuantes deste estágio, solicitem um nível de governança avançado, que não condiz com o aporte e/ou com a maturidade da startup.
Se a sua startup está em um estágio muito inicial, este excesso de burocracia pode dificultar o seu dia a dia como empreendedor, e é preciso atentar-se para estas exigências na relação não travarem um evento de liquidez futuro ou uma próxima rodada. Voltando a governança exigida por investidores em early-stage, após o aporte, são solicitados documentos e informações que podem variar de fundo para fundo. Porém, em geral, os documentos financeiros são os mesmos que os exigidos em fase de Due Diligence , como balanço e DRE, e ainda demais informações que visam acompanhar o crescimento da startup em termos de clientes, faturamento, colaboradores e métricas relacionadas ao negócio específico.
O acompanhamento junto aos investidores em termos de governança não deveria, em tese, ser algo que ocupe muito você como empreendedor neste momento da jornada, mas sim manter a relação atualizada devido ao compromisso firmado. Destaco que a referida organização e diligência interna podem auxiliar sua empresa a crescer de forma saudável no longo prazo, além de proporcionar maior facilidade em uma potencial venda no futuro: a diligência que o comprador realiza sempre será mais complexa que a de um investidor, então ter a empresa minimamente organizada ao longo dos anos facilita este futuro processo.
Neste acompanhamento, busque ter as expectativas alinhadas com este “novo sócio” no longo prazo:
Quantas vezes por ano serão exigidos relatórios?
Há reuniões com periodicidade já pré-estabelecidas?
Quais informações devem ser enviadas e como?
Claro que quanto menos exigências neste estágio, maior foco e esforço no que mais importa: o seu negócio. Os investidores devem oferecer o combustível necessário para você chegar ao destino planejado, e o ideal é que ambos queiram, desde o início das tratativas, atingir este mesmo objetivo, seja ele uma venda ou outro evento de liquidez metrificável.
Se as questões de governança solicitadas pelo investidor são decorrentes do compromisso financeiro que ele firmou com você e da necessidade de manter os cotistas deste atualizados, você em contrapartida espera receber algo além do aporte: o apoio estratégico.
Os fundos possuem sua forma específica de atuação neste quesito. Alguns auxiliam o empreendedor pontualmente e/ou quando este solicita, enquanto outros podem iniciar um processo contínuo de acompanhamento com reuniões mensais e mentorias estabelecidas. Alguns só aparecem quando há decisões que impactam no futuro da startup que reflitam em seu portfólio (como novo investimento ou venda), e outros podem querer todas as decisões em conjunto ou serem chamados constantemente.
Haverá vantagens e desvantagens em qualquer atuação: a interferência de forma excessiva pode gerar pouca flexibilidade, engessando o seu dia a dia com travas operacionais, enquanto um fundo muito passivo pode incomodar alguns fundadores que esperam mais auxílio.
De qualquer modo, recomendamos que as reuniões com seu investidor nesta fase da startup não virem uma prestação de contas de grande complexidade ou discussões detalhistas sobre a operação, mas sim, um momento de alinhar os próximos passos e desafios da empresa e como o investidor pode te auxiliar de forma macro.
Trazendo o exemplo de dentro de casa, nosso papel como investidor aqui na Questum consiste em auxiliar os empreendedores a compreender quais são os potenciais caminhos de crescimento, e dentre essas opções qual escolha irá levar a empresa para o próximo patamar em termos de faturamento e maturidade (com menor uso possível do capital e em menos tempo). Tomamos cuidado para sermos investidores mais estratégicos, auxiliando no plano de negócios e com conexões, deixando o empreendedor livre para execução e operação.
De qualquer forma, captar investimentos significa escolher um novo sócio para sua startup. Tentamos nestes 4 posts trazer de forma breve um pouco do que norteia esta etapa: se é de fato necessário captar, qual o motivo, se o perfil de investidor se encaixa com o seu, se ambos querem atingir os mesmos objetivos, e agora se ambos estão alinhados com a relação estabelecida.
Espero de verdade que este post tenha ajudado você de alguma forma, ou algum dos demais textos da Série! Considerando que a sua startup é o seu maior investimento, de tempo e recursos, eu te desejo um ótimo investimento! Conheça os demais posts da Série "Como captar investimentos para sua startup":